O FENÔMENO TIMBALADA. CULTURA MUSICAL AFRO-POP E JUVENTUDE BAIANA NEGRO-MESTIÇA.
ARI LIMA –
PESQUISADOR DO PROJETO S.A.M.BA – SÓCIO-ANTROPOLOGIA D A MÚSICA NA BAHIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA – E DOUTORANDO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB
>Nos últimos vinte anos, em Salvador, capital da Bahia, a música gerou
>tamanha movimentação que transcende a própria música. É um universo onde
>passaram a estar em jogo a afirmação de conteúdos identitários, a hegemonia
>por signos atraentes tanto para o público consumidor quanto para a indústria
>da música e conseqüentemente a sedução de platéias nacionais e até mesmo
>globais. Esta música se tornou então o resultado da assimilação de códigos
>musicais diversos – vindos de estilos como o funk, o rap, a salsa, o pop, o
>samba, a música romântica e/ou refleviva – e extra-musicais tais como um
>sentimentalismo individualizante, a busca de uma África pura e mítica, a
>assimilação de temas globais associados à questão racial dos negros, o
>orgulho étnico, a exploração de linguagens corporais e a cristalização de
>uma identidade baiana que tem como fio condutor as manifestações culturais
>dos negros. A majoritária juventude negro-mestiça de Salvador
>semi-escolarizada, pobre, ávida pelo consumo de bens simbólicos e materiais
>tem sido atinjida sobremaneira por essa movimentação. Neste artigo pretendo
>discutir como esta juventude, através da música, reelabora e recicla
>identidades, almejando pertencimento e ascensão social, conjugando muitas
>vezes ética, estética e política. Tomo como ponto de partida a banda
>Timbalada visto que esta banda alterou a cena musical e étnico-racial
>vigente até 1993 tanto pela introdução de novas bases percussivas quanto
>pela ênfase na noções de pessoa e indivíduo do músico negro.